O Governo transferiu 240 naves do Projecto Integrado de Avicultura Familiar Orientada para o Mercado (PIAFOM) – implantado no Lucala (Cuanza-Norte) e Cacuso (Malanje) – para empresários privados, com o que vai recuperar os fundos públicos empregues no investimento.
O secretário de Estado para a Agricultura, Carlos Alberto Jaime, no acto de transferência dos activos realizado há uma semana, no Lucala, que parte das naves também vai beneficiar os ministérios da Defesa e do Interior, para que produzam carne para consumo do efectivo.
Os activos do PIAFOM permaneceram inactivos por seis anos, depois de o Governo ter empregue 62,9 milhões de dólares na sua construção, 49 milhões dos quais obtidos do Eximbank da Coreia do Sul, num empréstimo reembolsável em 30 anos.
Angola comparticipou com 923 mil dólares, o equivalente a 20 por cento.
O secretário de Estado revelou, no Lucala, que os activos do PIAFOM estão a ser vendidos a um consórcio privado, com o Estado a recuperar os valores aplicados no projecto e a decisão de continuar a prestar assistência técnica.
Abandonadas ao longo de seis anos, as 120 naves implantadas no PIAFOM do Lucala estão cercadas de capim, com os equipamentos a apresentarem níveis de degradação acentuados.
O capim está na sua maioria seco e suscita a ameaça de incêndios, habituais nesta época do ano, o que, a acontecer, será o segundo desde a implantação do recinto. Algumas ideias foram avançadas para prevenir uma eventual queimada, cujas chamas se estima que podem atingir dois metros.
Quando foi inaugurado, em 2012, o projecto avícola do Lucala visava comercializar produtos comestíveis, em especial vísceras vermelhas (coração, moelas e fígado), patas, pescoços, frango congelado inteiro ou em partes, sendo a carcaça de frango o principal produto oriundo do matadouro.
A produção prevista era de 1,2 milhões de galinhas em cada 45 dias, gerando 300 postos de trabalho directos.
Previa-se também relançar e estruturar de forma sustentável a fileira produtiva da avicultura, o que se enquadra nos programas do Executivo de incremento da produção interna para substituir as importações.
O projecto funcionou num período de cerca de três meses e serviu para vender as galinhas colocadas para o acto inaugural, em 2012, no qual participou o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural de 2007 a 2016, Afonso Canga.
Falhas sucessivas
Técnicos envolvidos no projecto apontam, em declarações ao Jornal de Angola, a falta de dinheiro para resolver a insuficiências de água, ração e pagamento do consumo de energia eléctrica como as causas da inviabilização dos aviários.
O sistema de furos para a captação de água tinha caudal reduzido e a alternativa era o acarretamento em carrinhas. O aquecimento dos pintos estava fragilizado por dificuldades de energia eléctrica, gerada em painéis solares, o que resultava em “stress” e canibalismo entre as aves.
“Havia muitas falhas e a solução foi o recurso à energia da rede pública, que se afigurou muito cara”, disseram.
Na esperança de manter o projecto em funcionamento, o Governo Provincial do Cuanza-Norte atribuiu, sem sucesso, as naves para exploração e certos criadores, na expectativa de que obtivessem um rendimento líquido por pavilhão equivalente a 2.260 dólares por ciclo de produção.
Posteriormente entregou-se o PIAFOM à empresa Agricultiva (detida por capitais israelitas), mas o quadro de sub-rendimento manteve-se inalterado.
Na fase experimental, o projecto consumia ração adquirida em Luanda e Ma-lanje à razão de 200 gramas por dia por ave, o que resultava numa necessidade diária de 120 mil quilos e 432 toneladas por ano.
Tal quantidade obrigaria a produzir a ração na fábrica própria do projecto, o que implicava ter em conta aspectos como a localização, lavoura mecanizada, irrigação e sacha a cerca de 50 hectares para a produção de milho, principal matéria-prima.
“Não se produziu milho, logo não houve ração”, disse um especialista.
A unidade fabril tem capacidade para produzir cinco toneladas por mês e foi a última componente do projecto a parar, posto que operava com matéria-prima ida de outros pontos e, enquanto funcionava, produzia ração para aviários de galinhas poedeira em Cacuso.
O PIAFOM ainda detém 27 naves de criação de galinhas reprodutoras, entre as que se incluem nove de cria e dez de recria e incubação para dois milhões de ovos por cada ciclo. O matadouro está preparado para abater 32 mil aves por dia, mas nunca funcionou.
Decisão reduz necessidade de importar
A produção de cerca de dez mil toneladas de carne de frango em dois ciclos anuais no projecto avícola do Lucala (Cuanza-Norte) e Cacuso (Malanje), prevista com a passagem das naves para o sector privado e entidades públicas, vai reduzir esse tipo de importação e o dispêndio de divisas que lhe está associado.
A estimativa foi feita pelo secretário de Estado da Agricultura, Carlos Alberto Jaime, na passagem das naves do PIAFOM, num acto em que notou que Angola importa 500 mil toneladas de carne de frango por ano.
O secretário de Estado para a Agricultura considerou importante que os criadores interessados tenham condições logísticas e sanitárias, estando habilitados para a compra de ração e a obtenção da vacina Newcastle, já produzida em Angola.
Carlos Alberto Jaime anunciou que foram activados incentivos à produção de milho e soja no Lucala e Camabatela (Cuanza-Norte), bem como na Quizenga (Malanje), onde ocorre uma vasta produção de cereais e leguminosas para complemento das rações, fundamentais para a criação de frangos.